sábado, 22 de setembro de 2012

22. Depois da ressonância

Olha só, dá para ver até os detalhes!

Estas foram algumas das primeiras palavras de meu médico quando olhou a ressonância. A pressão no cérebro havia diminuído muito, dava para ver detalhes do crânio que antes não apareciam. A ventriculostomia estava funcionando! Eu já sentia isso, agora a ressonância confirmava oficialmente!

Minha vida mudou muito! Tudo estava ficando cada vez melhor! Ainda bem que não desanimei! Ainda bem que fui pesquisar o que significava minha hidrocefalia. Ainda bem que encontrei um médico competente, conhecedor das novas tecnologias, que conhecia a ventriculostomia. Ainda bem que não acreditei nos vários outros neurocirurgiões que consultei! Ainda bem que ouvi meu coração!

Fiquei tão contente com tudo o que estava acontecendo que queria compartilhar meu sucesso. Mais, queria ajudar outras pessoas que estavam passando pela mesma situação que eu havia passado. Este blog foi um dos primeiros caminhos que encontrei. Tomara que eu encontre mais, quero ajudar quem está precisando!

O blog já começou a dar resultados. Se você olhar no alto desta página, bem no canto direito, verá o link A luta de outras pessoas, em que pretendo contar casos de pessoas que entraram em contato comigo. Por enquanto há apenas uma pessoa que conheci - via internet - com um problema excesso de líquor no cérebro. Ainda não a conheço pessoalmente, tomara que algum dia eu a encontre.

Fique à vontade para compartilhar sua história aqui, muitas outras pessoas poderão aproveitar suas experiências.

Encerro por enquanto minha história com este artigo. Estou tão bem, mas tão bem, que não me canso de fazer tudo que sempre tive vontade de fazer e  não estava conseguindo mais.

Tanto é assim que voltei a uma das atividades que mais gostava, andar de bicicleta. E não é que há algum tempo, em plena manhã ensolorada de domingo, estava andando de bicicleta quando a roda da frente ficou presa em um buraco e eu ... CAÍ!

Pois é, caí e quebre o cotovelo em seis pedaços. Dá para acreditar? Fui direto para o pronto-socorro, dali para um quarto de hospital, depois para uma cirurgia - DE NOVO - colocar uma placa e vários parafuros no braço!


Cotovelo quebrado em seis lugares! Duas placas e oito parafusos implantados!
 Coisas de quem vive bem a vida. Acidentes acontecem! Estou agora justamente vivendo a fase de consolidação de meu braço - mais especificamente - do cotovelo. São três a quatro meses sem dirigir um carro. E vai saber quanto tempo sem andar de bicicleta!

Quer saber? Estou é muito feliz! Mesmo com o cotovelo querbrado. Muito melhor ter um acidente vivendo bem a vida do que trancado em casa sofrendo uma hidrocefalia mal resolvida.

Obrigado a todos que leram meus artigos até aqui. Um abraço grande!

sábado, 15 de setembro de 2012

21. Antes da ressonância

Algumas pessoas mais velhas dizem que os médicos antigamente entendiam melhor os pacientes. Eles não precisavam de exames em laboratórios, só pela conversa no consultório e pelos exames feitos ali mesmo, todo bom médico sabia tratar uma pessoa doente.

Pois então, eu precisava fazer a tão esperada ressonância para saber o que estava acontecendo com meu cérebro. Porém, desta vez fui ao laboratório com um outro estado de espírito. Eu parecia até aqueles médicos de antigamente, sabia que algo de bom havia acontecido. Eu estava sentindo isso.

Antes do exame, já havia retomado algumas de minhas atividades normais. Havia retomado minhas aulas - sou professor, voltei para minhas aulas de dança - mas aqui como aluno, estava visitando clientes e até passei uma tarde comprando equipamentos e acessórios necessários para meu computador e minhas aulas.

Preciso comemorar uma conquista aqui: as aulas de dança. Minhas colegas estavam elogiando meu estilo, minha segurança. Havia parado as aulas por três meses, mas voltei muito melhor. Claro, voltei sem o excesso de líquor em meu cérebro. Que sensação boa!


Eu e minha mulher dançando!

No dia marcado para o exame, talvez eu fosse a pessoa mais feliz naquele laboratório. Eu estava lá para comprovar o sucesso de minha cirurgia, a terceiro ventriculostomia. Foi com muita alegria que preenchi a ficha justificando o exame:

Acompanhamento de cirurgia no terceiro ventrículo.

Durante o exame, eu estava tão tranquilo e feliz que cheguei a - acreditem - dormir. Aquele barulho alto, que incomoda muita gente, estava embalando meu sono. Cheguei a confundir - em meu sonho - os sons do aparelho de ressonância com a buzina de um navio. Sonhei que estava partindo em um cruzeiro!

O exame ficaria pronto em uma semana. Que demora, gostaria de ver o resultado ali mesmo. Mas, tudo bem, eu aguardaria. Neste meio tempo, tive mais aulas para ministrar, mais clientes para visitar.

Interessante é que até a cicatrização em minha cabeça estava acelerada. Não havia praticamente sinal algum da cirurgia. Só as pessoas que sabiam dela é que conseguiam enxergar algum sinal do corte. E olha que sou careca, a cicatriz deveria ser muito visível. Mas não, ninguém via!

Não comentei, mas antes mesmo da ressonância, fui convidado por uma amiga para um passeio em Paraty. Claro que fui, havia muita vida para viver. Quem já foi a um passeio típico lá sabe que quase todos fazem um passeio de escuna. Um dia inteiro no mar!

A escuna para em alguns pontos, as pessoas mergulham, é tudo uma festa. Na primeira parada fiquei olhando todo mundo mergulhar, estava com medo de tentar. Mas na segunda não tive dúvida, pulei de corpo e alma no mar. Dá para acreditar? Havia saído há pouco de uma cirurgia! Ainda há pouco eu estava com problemas para caminhar! Imaginem, agora eu havia MERGULHADO NO MAR! É uma sensação inacreditável!

Já estava chegando o dia marcado para pegar a ressonância. Eu estava ao mesmo tempo MUITO ANSIOSO - queria comprovar os bons resultados - e CALMO, sabia que tudo estava certo...




domingo, 2 de setembro de 2012

20. E aí, funcionou?

Os dias foram passando, a cicatrização foi acontecendo, a tontura foi diminuindo, a segurança foi chegando. E, O MELHOR DE TUDO, comecei a andar normalmente. Como é bom andar direito!

Meu caminhar havia voltado ao normal. Mais do que o normal, porque eu havia esquecido o que era ser normal. Os sintomas de minha hidrocefalia foram se manifestando aos poucos, eu não percebia a degradação de movimentos e sensações.

Meu normal foi mudando lentamente e eu não percebia. Agora, estava voltando a um estágio que não lembrava mais. Não lembrava mais que ser normal era assim.

Experimentar livremente meus movimentos, caminhar ao ar livre, demorou um pouco. Meu médico havia recomendado que eu ficasse quieto em casa até tirar os pontos. Eu precisava segurar minha ansiedade, ter calma e esperar a recuperação.

Como foi difícil a recuperação. Aqueles pesadelos noturnos ainda aconteciam. Estavam diminuindo, à custa de calmante, mas estavam diminuindo. Sorte é que intuí um jeito de não precisar mais dos calmantes.

Todo dia, antes de dormir, procurava ver algo leve na TV. Alguma coisa que relaxasse, que me fizesse rir. Vi "Escolinha do Prof. Raimundo" no Canal Viva praticamente todas as noites. Acho que aquele pessoal não fazia ideia de que um programa como aquele pudesse ser tão terapeutico, tão calmante!

E o salário, ó!
 Estava chegando o dia em que tiraria os pontos. Meu cunhado, o mesmo que me trouxe para casa após a cirurgia, estava mais uma vez presente em minha vida, foi ele quem me levou para a consulta.

Como sofremos naquele dia. O trânsito estava caótico. A consulta estava marcada para as 19h, saímos de casa às 17h30, mas só chegamos perto das 20h. Que agonia!

Eu não queria perder a consulta. Tirar os pontos tinha um significado psicólogico especial. Tirar os pontos seria como tirar um dos últimos sinais visíveis externos da hidrocefalia. Está certo, eu deveria ficar com a cicatriz, cicatriz bem visível (sou careca!), mas nem pensava nisso. Eu só queria tirar os pontos!

Naquela noite, naquele carro que não chegava nunca, a sensação de pesadelo voltava, mas agora acordado. Tinha uma sensação de escuridão, medo de me perder na cidade, medo de não chegar onde queria. Meu cunhado e minha mulher conversavam animadamente, mas eu estava angustiado. Não contei para eles, preferi deixá-los tranquilos. Eu queria mesmo é chegar e tirar os pontos.

Sorte é que outras pessoas também se atrasaram nas consultas daquele dia, meu médico ainda estava lá. Tirou os pontos. Elogiou o resultado. Fez mais testes comigo. Estava tudo certo, muito certo. Que conquista!

Voltamos para casa. Que alívio. Queria muito abraçar forte minha mulher. Queria muito abraçar forte meu cunhado, eu queria muito agradecê-los. Eu estava começando a viver novamente.

Minha vida foi voltando ao normal, havia muito a reconquistar. E havia também uma nova ressonância a fazer, o que será que o exame iria mostrar?