domingo, 2 de setembro de 2012

20. E aí, funcionou?

Os dias foram passando, a cicatrização foi acontecendo, a tontura foi diminuindo, a segurança foi chegando. E, O MELHOR DE TUDO, comecei a andar normalmente. Como é bom andar direito!

Meu caminhar havia voltado ao normal. Mais do que o normal, porque eu havia esquecido o que era ser normal. Os sintomas de minha hidrocefalia foram se manifestando aos poucos, eu não percebia a degradação de movimentos e sensações.

Meu normal foi mudando lentamente e eu não percebia. Agora, estava voltando a um estágio que não lembrava mais. Não lembrava mais que ser normal era assim.

Experimentar livremente meus movimentos, caminhar ao ar livre, demorou um pouco. Meu médico havia recomendado que eu ficasse quieto em casa até tirar os pontos. Eu precisava segurar minha ansiedade, ter calma e esperar a recuperação.

Como foi difícil a recuperação. Aqueles pesadelos noturnos ainda aconteciam. Estavam diminuindo, à custa de calmante, mas estavam diminuindo. Sorte é que intuí um jeito de não precisar mais dos calmantes.

Todo dia, antes de dormir, procurava ver algo leve na TV. Alguma coisa que relaxasse, que me fizesse rir. Vi "Escolinha do Prof. Raimundo" no Canal Viva praticamente todas as noites. Acho que aquele pessoal não fazia ideia de que um programa como aquele pudesse ser tão terapeutico, tão calmante!

E o salário, ó!
 Estava chegando o dia em que tiraria os pontos. Meu cunhado, o mesmo que me trouxe para casa após a cirurgia, estava mais uma vez presente em minha vida, foi ele quem me levou para a consulta.

Como sofremos naquele dia. O trânsito estava caótico. A consulta estava marcada para as 19h, saímos de casa às 17h30, mas só chegamos perto das 20h. Que agonia!

Eu não queria perder a consulta. Tirar os pontos tinha um significado psicólogico especial. Tirar os pontos seria como tirar um dos últimos sinais visíveis externos da hidrocefalia. Está certo, eu deveria ficar com a cicatriz, cicatriz bem visível (sou careca!), mas nem pensava nisso. Eu só queria tirar os pontos!

Naquela noite, naquele carro que não chegava nunca, a sensação de pesadelo voltava, mas agora acordado. Tinha uma sensação de escuridão, medo de me perder na cidade, medo de não chegar onde queria. Meu cunhado e minha mulher conversavam animadamente, mas eu estava angustiado. Não contei para eles, preferi deixá-los tranquilos. Eu queria mesmo é chegar e tirar os pontos.

Sorte é que outras pessoas também se atrasaram nas consultas daquele dia, meu médico ainda estava lá. Tirou os pontos. Elogiou o resultado. Fez mais testes comigo. Estava tudo certo, muito certo. Que conquista!

Voltamos para casa. Que alívio. Queria muito abraçar forte minha mulher. Queria muito abraçar forte meu cunhado, eu queria muito agradecê-los. Eu estava começando a viver novamente.

Minha vida foi voltando ao normal, havia muito a reconquistar. E havia também uma nova ressonância a fazer, o que será que o exame iria mostrar?


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