sábado, 12 de maio de 2012

5. Enfim uma solução, a válvula!

Minha odisseia começou, eu buscava desesperadamente uma solução para o diagnóstico este problema não tem cura, fui ao primeiro médico de minha lista - aquele que havia sido meu aluno anos atrás. Fui muito bem recebido, lembramos os tempos em que ele esteve em uma aula tentando aprender como melhor utilizar uma agenda eletrônica - uma das mais avançadas na época.

Começamos a falar de meu problema. À medida que eu contava meus sintomas - dificuldade para andar, problemas para falar algumas palavras, sono, letargia - a fisionomia do médico ia se modificando, ficando cada vez mais grave. E eu mais preocupado!

Duas coisas estavam me incomodando. Primeiro, na sala havia uma espécie de furadeira manual, daquelas que marceneiros usavam para furar madeira. Claro, provavelmente era este o instrumento usado antigamente pelos cirurgiões para furarem os crânios de seus pacientes. Uma visão nada agradável para quem vai a um neurocirurgião, concordam?

Fiquei perturbado também com uma aparente distração do médico. Enquanto eu falava, ele ficava manuseando - sem sucesso - uma antiga agenda de cartões. A agenda não abria, um parafuso aparentemente estava emperrado, e eu pensando "será que ele terá esta mesma habilidade manual quando for lidar com meu cérebro?". É, seria cômico se não fosse trágico!

Fui um pouco injusto, enquanto ouvia meus relatos, o médico já estava procurando o telefone - na antiga agenda de cartões - o telefone de uma médica especializada em um exame específico que ele iria indicar para mim.

- A única pessoa que sabe fazer direito este exame - diria ele depois.

O exame era o tap-test, que poderia identificar meu problema, uma hidrocefalia de pressão normal. Pesquisando depois na internet, descobri que

Hidrocefalia de pressão normal (HPN) é uma síndrome caracterizada por déficit cognitivo, alteração da marcha e incontinência urinária associada a uma disfunção da circulação do líquor. Dois desses sintomas já sugerem fortemente o diagnóstico, e a tomografia do crânio ou ressonância magnética aumentam a suspeita diagnóstica quando se encontra dilatação dos ventrículos cerebrais. O tratamento de escolha para a HPN é a colocação de uma válvula que permita uma redução do volume do líquor na cabeça.


O TAP-Test consiste na coleta de 30 a 50 ml de líquor. Antes da coleta são feitas duas avaliações: performance da marcha do paciente e exame neuropsicológico, medindo-se as capacidades cognitivas. No dia seguinte à coleta, as mesmas avaliações são repetidas. O resultado é positivo quando há melhora objetiva nas medidas de marcha e/ou cognitivas. O teste tem duas funções principais:


- Confirma o diagnóstico de HPN
- Quando positivo, reflete uma maior chance do paciente se beneficiar do tratamento cirúrgico de colocação da válvula.
www.icbneuro.com.br, Instituto do Cérebro de Brasília

A notícia era boa, MUITO BOA, afinal havia um tratamento, a colocação de uma válvula que resolveria o problema. Nem preciso dizer como fiquei contente. Mesmo sabendo que teria que fazer uma cirurgia no cérebro - algo normalmente assustador - eu estava surpreendente calmo e esperançoso. Era um tratamento, afinal!

E justiça seja feita, fiquei ainda mais animado com uma frase do médico:

- Não vamos deixar nenhum destes sintomas aparecerem em você!

Marquei o tal tap-test. Caro, absurdamente caro. A médica, a única que sabia fazer direito este teste, estava em férias, e meu exame foi marcado para 20 dias depois. O que foi muito bom, porque continei minha odisseia enquanto isso, fui ao próximo médico de minha lista.


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