domingo, 5 de agosto de 2012

16. O dia seguinte

Não se preocupe, lembro que você também sentiu um frio grande assim depois de sua cirurgia. Deve ser a anestesia!

Foram minhas primeiras palavras assim que abri os olhos. Estavam lá minha mulher - para quem eu disse a frase acima - meu pai e um enfermeiro. Foi uma visão muito estranha, eles pareciam estar muito longe, me sentia observado como se estivesse em um estádio de futebol.

Minha mulher, no entanto, ficou absolutamente feliz com minhas palavras. Eu estava "normal", consegui até me lembrar de uma cirurgia que ela havia feito anos antes - ela sentiu também muito frio quando acordou!

Zelosa, preocupada comigo, colocou mais um cobertor além de outros dois que já estavam na cama. Minha cirurgia demorou mais de três horas, fiquei sabendo depois. A expectativa de minha mulher, de meu pai e de minha amiga, todos no hospital aguardando notícias, estava no mais alto nível de angústia.

Quando minha mulher, de plantão na saída do centro cirurgico, viu meu médico atrás da maca com um amplo sorriso estampado no rosto, a sensação de alívio foi enorme. "Deu tudo certo", ela teve certeza.

– Vou dormir um pouco!

Foi o que falei antes de fechar novamente os olhos e acordar só na manhã do dia seguinte. Como medida de precaução, eu estava na UTI. Era padrão ficar em rigorosa observação durante 24 horas após a cirurgia.

E não era uma UTI normal, com várias camas umas ao lado das outras, era um quarto especial DENTRO DA UTI. Pacientes após cirurgia no cérebro muitas vezes caem em depressão, fiquei sabendo depois. A atenção é redobrada.

Mas eu estava calmo. Acordei absolutamente tranquilo, nem dor eu tinha. Claro, ainda estava sob os efeitos derradeiros da anestesia. A sensação era ótima, tudo havia passado, tudo havia dado certo. Eu queria comemorar. Eu queria levantar, falar com todo mundo, abraçar e beijar quem passasse em minha frente. Eu queria encontrar de novo minha mulher e meu pai. Eu queria abraçá-los muito!

A cirurgia foi uma ventriculostomia (veja artigo 10. Ventriculostomia - a solução!) um furo feito no terceiro ventrículo do cérebro, criando uma espécie de canal alternativo para o fluxo de líquor, que agora fluiria para as cisternas próximas ao ventrículo. Para minha surpresa, meu médico havia feito dois furos, e não um como previsto, fiquei sabendo depois.
Ventriculostomia no chão do terceiro ventrículo

Gostei muito desta solução, afinal um furo poderia fechar ao longo dos anos, dois furos então ofereceria uma garantia melhor de fluxo constante. Insisto, gostei muito! Ainda bem que meu médico não tocou neste assunto antes, eu teria ficado inquieto. Dois furos em vez de um? Agora que a cirurgia estava feita, achei de fato uma boa solução.

Embora eu não me desse conta, a expectativa de algum problema ainda existia. Haveria algum sangramento? Dor de cabeça forte? Como estariam meus movimentos quando eu me levantasse? Como seria minha recuperação?

Já escrevi demais! Estes e outros assuntos ficam para a próxima semana.


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