sábado, 18 de agosto de 2012

18. Uma noite no hospital

Após um dia de UTI, a noite em um quarto do hospital prometia ser muito boa. Comentei em outro artigo, hospitais hoje em dia parecem até hotéis, não é a toa que encontrei frigobar, TV, serviço de quarto e até mimos como touca de banho, sabonetinhos, pentes e pastas de dentes. Um belo de um local para passar a noite.

Logo após um merecido banho - com muito cuidado, não queria molhar o curativo em minha cabeça - o jantar chegou. Jantar igualmente merecido, minha fome era muita.

Se tem algo que conforta é saber que parentes e amigos se importam com a gente. Enquanto tomava meu banho, enquato jantava, as pessoas ligavam, queriam me ver. Foi só acabar o jantar que chegaram amigos, depois parentes, depois amigos e parentes - meu quarto parecia uma festa. Meu quarto ERA UMA FESTA, estávamos todos comemorando.

Mas um problema, problema sério, estava para acontecer. Todos foram embora, ficamos minha mulher e eu. Era hora de dormir. Foi só fechar os olhos que o drama começou: EU ESTAVA COM MEDO DE DORMIR! Na verdade, eu estava mesmo é com MEDO DE NÃO ACORDAR SE DORMISSE!

Deitado, no escuro, aquele quarto parecia minúsculo, eu estava me sentindo sufocado. Minha sensação era de que não conseguiria nem me mexer na cama, de tão pequeno que sentia o quarto. Claro que era só sensação, acábavamos de receber seis pessoas ao mesmo tempo algum tempo antes.

Pior mesmo era fechar os olhos e tentar dormir. Eu tinha pesadelo, sempre o mesmo. Caminhava por um caminho bem difícil, específico, importante. Aí, quando eu acordava, o sonho ainda estava comigo, eu não poderia esquecer o caminho feito enquanto dormia porque senão não saberia voltar. Era angustiante!
Foto meramente ilustrativa publicada originalmente em Blog Olhares

Acredito que por trás de tudo isso estava o medo de perder a consciência, afinal havia um furo em meu cérebro - dois furos - o que será que aconteceria dali para frente? E se os neurologistas conservadores tivessem razão, e se meu cérebro sofresse uma inversão (artigo Cérebro Invertido)? E se o líquor não parasse mais de sair, tal como em um cano furado - como falou outro médico especialista (veja no mesmo artigo Cérebro Invertido)?

Motivos para medos é que não faltavam! Era começar a dormir que o mesmo pesadelo acontecia. Eu não podia esquecer o caminho, eu precisava voltar. Foi angustiante! Passei grande parte do início do sono dormindo, acordando, sentando na cama, de novo dormindo, acordando...

Resolvi me entregar, pensei que mais hora menos hora eu pegaria no sono. Se não encontrasse mais o caminho, se perdesse a consciência, a razão, fazer o quê? Lembrei de uns princípios de meditação, comecei a prestar atenção em minha respiração ... e dormi!

Foi um alívio! Amanheci melhor, ainda com os medos presentes, mas um pouco mais distantes. Quando o médico chegasse, conversaríamos melhor. Mas alguns problemas ainda me esperavam. Conto no próximo artigo!

2 comentários:

  1. Fernando, também me chamo Fernando! hahaha
    Então, eu estava procurando por terceiro ventriculostomia no google, quando achei seu blog.
    Li toda sua história e sofria junto!
    Fiquei muito aliviado quando a cirurgia foi um sucesso!
    Muito obrigado por compartilhar sua história, achei incrível mesmo. Foi uma lição pra mim. Estarei acompanhando para mais novidades.
    Estudo medicina e tudo o que menos quero ser é arrogante igual àquele doutor!
    Te desejo toda sorte do mundo daqui pra frente! Um abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fernando, que bom ler este seu comentário. Melhor ainda saber que você estuda medicina e que arrogância passará longe de seu atendimento. Parabéns! E, por favor, continue lendo o blog, coloco um novo post a cada final de semana. Fique também à vontade para comentar sempre que tiver vontade. Um grande abraço!

      Excluir