sábado, 11 de agosto de 2012

17. Um dia na UTI

Você consegue mexer a perna?
Você consegue mexer o braço?
Você está me vendo?

Minha mulher leu o artigo passado, quando comentei minhas primeiras palavras, "...Não se preocupe, lembro que você também sentiu um frio grande..." e perguntou se eu lembrava das palavras dela. Não lembrava. Na verdade, não lembro até hoje. Foram estas três perguntas que iniciam este artigo.

Três perguntas, aliás, que demostram muito bem o que todos estavam pensando ANTES da cirurgia. Será que eu teria alguma sequela? Depois de todo o TERRORISMO que os médicos especialistas fizeram, motivos é que não faltavam para nossos medos.

Um falou que meu cérebro sofreria uma inversão, já que o furo na base do terceiro ventrículo o esvaziaria, e o quarto ventrículo tenderia a ocupar este espaço, provocando a tal inversão do fluxo de líquor.

Outro falou que um furo assim seria semelhante a furar um cano d'água, o líquido não pararia de sair, sairia bastante na verdade. Este médico falou inclusive que já havia vistos médicos (estes moleques formados em faculdades de segunda) fazerem isso, e que depois levavam os pacientes para ele resolver as bobagens feitas. Palavras dele, não minhas!

Mas eu acordei muito bem. Animado, otimista, querendo abraçar o mundo, como já comentei no artigo passado. E com uma fome danada, queria tomar meu café, que nunca chegava. Fiquei então ouvindo tudo o que acontecia do lado de fora do quarto, queria saber se o café estava chegando.

Ouvi então um enfermeiro mais brincalhão lá fora, ele conversava com todos, brincava com todos. Foi ele quem agilizou meu café. Talvez um dos melhores que já tomei na vida. Mesmo simples, parecia um banquete.

Ele também me levou para fazer uma tomografia, era o exame que iria apontar algum eventual sangramento. Ele foi brincando com todo mundo nos corredores, o clima era ótimo. Melhor ainda a volta: eu tinha PASSADO no exame de tomografia, não havia sangramentos!

Algum tempo mais, já fora da cama, mas ainda sem ter colocado o pé no chão, e depois de muito desenho do Pica-Pau, chegou a fisioterapeuta. Seu objetivo: testar meu equilíbrio e movimento. De novo, passei com louvor no exame.

Chegou meu médico, ainda comemorando o sucesso da cirurgia. Conversamos um pouco, fez algumas perguntas, contei sobre meu estado de espírito altamente animado, ele fez alguns testes - ande em linha reta, ponha o dedo na ponta do nariz, feche os olhos - e por fim comemorou comigo: ESTÁ TUDO MUITO BEM!

Vinha agora a melhor parte, já estava pronto para sair da UTI e ir para o quarto. Foi aí que começou o martírio, não havia quarto disponível no hospital, era preciso aguardar.

Chegou minha mulher e meu pai para a visita da tarde. Como eles estavam com minhas roupas, aproveitei e vesti calça e camiseta. Tomei uma bela de uma bronca.

Na UTI é preciso ficar de camisola!

Coloquei de novo aquela camisola. Aquela horrível camisola. Mas eu estava bem, a cirurgia tinha dado certo, eu estava de bom humor. Só estava era ansioso para sair de lá.

Comecei a passear pela UTI, procurando saber quando eu poderia sair. Tomei uma bela de uma bronca.

Há muitos pacientes por aqui com doenças graves, contagiosas, o senhor quer correr o risco?

Voltei para meu quarto, quase correndo. Afinal, havia muito Pica-Pau na TV. Depois de mais algumas horas, e da ajuda de meu amigo enfermeiro, conseguimos um quarto.

Mas a noite que se aproximava não seria assim tão tranquila. Conto no próximo artigo.



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